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Indicação de Leitura de Abril - Macunaíma, Mário de Andrade

por Rômulo Bischoff


Quando ouvi falar sobre Macunaíma a primeira vez, estava na minha adolescência, quinze, dezesseis ou dezessete anos, não me recordo exatamente. Primeiramente, na minha época de quase rebeldia e ainda um pouco enraizado o desprezo pelo nacional e alta valorização do importado, não dei importâncias, nem o costume da leitura sequer eu tinha, quem diria dar uma chance a um livro das terras tupiniquins. Era um dos livros que poderiam aparecer nas redações do vestibular naqueles anos, sempre lembravam os professores.


Capa do Livro (Foto: Divulgação). Mário de Andrade (Foto: Agencia O Globo)


“Macunaíma, um herói sem nenhum caráter, conta história de um Índio, nessa história tomado como uma imagem heróica dentro do contexto brasileiro, que sai de sua tribo e vai para a cidade em sua epopeia” basicamente era isso que me fora passado, e não fugi a imagem disso, nada além.


O livro ficou esquecido no fundo da memória, até que um dia num jogo de mimicas e adivinhações, apareceu essa carta, a pessoa retratou um índio sendo devorado por um gigante, eu não reconheci a referencia, mas alguém acertou e todos ficaram abismados com aquele acerto, e pensei “um homem gigante comendo um pequeno índio?” Essa fantasia ficou marcada na minha cabeça, achei extremamente curiosa e diferente, por vezes a palavra Macunaíma ainda ficou como um bordão de brincadeira entre alguns amigos, qualquer situação improvável logo se tornava em um grito apontado com o indicador “Macunaíma!”

Mais alguns anos se passaram, li algumas obras brasileiras mais antigas, das quais me mostraram a riqueza majestosa dos nossos escritores, se não estou enganado comecei com “o cortiço” de Aluízio de Azevedo, pois alguém comentou que tinham cenas engraçadas e outras imorais, daí para o referido livro do título foi um pulo, pesquisei vagamente na internet para saber um pouco mais a respeito e fiz a aquisição.

Li a obra a um ano atrás, mais de dez anos do meu primeiro contato com a história. Um livro que superou toda e qualquer expectativa, uma espécie de leitura da qual nunca tinha passado anteriormente, algo que me fez despertar um desejo imenso pelo surrealismo. Em Macunaíma, passamos por uma história brilhante, com momentos em que o leitor se perde, fica com os pensamentos confusos e sente cada palavra, descartando-se por vezes os sentidos, ambiguidades e coerências do texto, por vezes quase paginas inteiras o escritor escreve somente palavras indígenas, nomes de comidas, ferramentas, termos, animais, plantas e etc… deixando-nos totalmente perdidos sem compreender absolutamente nada.

Macunaíma personificado a adaptação cinematográfica de 1969. Foto: Divulgação

Algumas ocasiões até a própria imaginação, a qual não se tem limites para criar as imagens das coisas e situações mais desconexas, acaba se perdendo e confundindo-se ao tentar reproduzir a narrativa do escritor, esse trabalhando muito bem com proporções de tamanhos, tempo e espaço, uma hora enquanto lê imagina o personagem grande, dois parágrafos depois o traz ao tamanho normal, logo depois precisa aumenta-lo novamente, depois precisa aumentar o lugar, em seguida diminuí-lo, descartar a geografia do Brasil e os efeitos do veneno da mandioca. Uma experiencia única de leitura, reproduzida em uma adaptação cinematográfica em 1969 a qual vários pontos divergem da obra escrita, mas mesmo assim muito divertido e curioso, com cenas estrambólicas como o nascimento do protagonista, encenado em sua primeira parte pelo ator conhecido por “Grande Otelo”.




A obra é composta de diversas referencias e insinuacões, uma odisseia épica de um homem nativo do sul das Américas ao estilo de Hércules, Aquiles, Ulisses, Enéias e tantos outros, porém sem estatuas ou honrarias lembradas para toda a eternidade, apenas um audacioso e intrépido brasileiro com desvios de caráter e muita preguiça.

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